quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Soneto para irritar Drummond

Eu queria compor um poema claro
um qualquer que qualquer um poderia escrever
Eu queria inventar um poema sem nada de raro
leve, aerado, muito fácil de entender.
Eu queria que este poema, depois de um tempo,
em alguém ainda despertasse o mínimo de prazer
E que, embora simples, ainda fosse um alento
mesmo para quem o esquecesse de ler
O poema seria simpático e puro
e haveria de acalmar, haveria de fazer sorrir
seria uma luz lumiando um quarto escuro
E ele iria ser lembrado no futuro
como uma brisa no rosto ou um poema no muro
Uma coisa gostosa de sentir
(uma paródia para Oficina Irritada de Drummond)
Douglas (29/01/2015)

(uma paródia para Oficina Irritada de Drummond)

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Dúvida.

Não invejo quem tem certeza
Certeza de
alguma coisa
ou de
qualquer coisa.
Eu não tenho certeza de
nada
No máximo uma
certezazinha provisória
Certeza mesmo,
de verdade
só do meu desconhecimento
na minha incompletude
da minha ignorância.
Minha força é
minha dúvida
Ela é minha companheira
e convivo (finalmente)
bem com ela.
Enquanto eu tiver
dúvidas
sei que estarei vivo.
Mas não tenho muita
certeza disso...

Douglas Bunder (28/01/2015)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

No trem

Enquanto o trem
engole e vomita gente
Leio a placa que diz:
"Guarde bem seus pertences"
E penso:
O que mais me pertence
além de meus pensamentos?
E como guarda-los se
são tão voláteis?
São como nuvens 
se transformando o
tempo todo.
Infinitamente
fluidos.
Inconsequentemente 
donos de si.


Douglas (26/01/2015)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Silêncio

Falo pouco.
Timidez? Falta de paciência?
As vezes uma, as vezes outra
A maioria das pessoas
com quem quero falar
São distantes
Ou quietas como eu
Com as que eu não quero
fico calado
Medo de que respondam,
comecem a falar
e não parem mais, nunca mais.
Mantenho então
um silêncio de
falsa educação
Olá. Como vai?
E no "como vai"
me arrepio:
E se ela resolve contar?
Já com outros,
aqueles que me interessam,
de fala baixa e mansa,
fico calado na espera.
Suas histórias, verdadeiras
ou falsas, me interessam.
e espero que venham fluídas
E que eu possa ouvi-las
encantado e em silêncio.
Aí, quem sabe,
Num momento ou outro
Eu possa também
contar minhas histórias
Verdadeiras ou falsas.

Douglas Bunder (23/01/2015)

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Quem nunca? (ou Na fotografia é tudo bonito)

 
Então você nunca saiu com  a camiseta do avesso
Nem nunca vestiu uma meia de cada cor
Nunca deu um tropeço
Nunca saiu de casaco quando estava calor
Então você nunca contou uma mentira
Na frente de quem não devia
Nunca fez uma fofoca
e depois disse que não sabia
Nunca fez uma merda
e  foi ridicularizado
E se remoeu por dentro
Mas  fingiu ser educado
Nunca foi vil ou avarento
Nunca traiu nem foi traído
Nunca foi sujo ou nojento
Nem dissimulado, nem fingido
Nunca foi covarde e fugiu da briga
Nem de ter medo foi capaz
Nunca elogiou pela frente
e falou mal por de traz
Nunca foi pego no flagra
Nem cometeu uma falha
Nunca se masturbou no banheiro
e depois limpou na toalha
Nunca peidou sem querer
e deixou aquele fedor no ar
Depois olhou ao redor
pra ver quem iria culpar 
Nem mesmo soltou um arroto
Não foi chato ou avarento
Nunca foi mesquinho ou escroto
Nem sujo, nem nojento
Se você nunca fez nada isso
Garante que não mente
E não tem medo de castigo
Você não é da categoria “gente”
É muito mais, você é foda
É gente em quem se confia
Você, na revista de moda,
É a própria fotografia.
 
 
Douglas (20/01/2015)
 
“Então sou só eu que é vil e errônio nesta terra? (Poema em linha reta – Fernando Pessoa)”
 

sábado, 17 de janeiro de 2015

Debaixo da palavra fria


Para o bom entendedor
Sugiro ler até o fim
Ler só a metade
Não te aproxima de mim

Nem tudo que escrevo é verdade
Nem toda a verdade eu escrevo
Tem muito de mim das palavras
Mas abrir de mais, não me atrevo

Como Pessoa diria
"Todo poeta é um fingidor"
Mas mesmo na palavra mais fria
Há muito da minha dor.


Douglas (17/01/2015)