quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Precipício do medo


Entrou no trem, magra e pálida
Um pacote nos braços
Em pé, no corredor do vagão
Contou uma pequena estória:
"Tenho câncer, perdi meus seios
Não recebo nada do INSS
Vendo imãs artesanais por um real
É para comer e pagar os
Os remédios que SUS não oferece"
Olhou para os passageiros e
Não teve ânimo de continuar
Sentou-se de frente para mim
Tinha os olhos claros cansados
Não do dia, mas da vida
Um lenço com gaivotas negras
cobria a cabeça sem cabelos
Levava uma mochila onde estava escrito:
"Precipício do medo"
Fiquei observando
Nossos olhares se cruzaram por um instante...
O trem chegou ao destino final
Saímos e tomamos rumos opostos
A distância entre nós foi
Ficando do tamanho de um
Precipício... de medo.
Então eu chorei...

db (10/2016)

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