quinta-feira, 9 de março de 2017

É só um menino que morre?

Um menino que morre na
frente de um restaurante
é só um menino
que morre?
Morreu só o menino
ou morreu nossa
capacidade de indignação?
A notícia que a mídia nos traz
banalizando mais uma desgraça
é só mais uma noticia
que corre?
Ou estamos perdendo
a capacidade de
discernir realidade
de ficção?
É justo responsabilizar quem?
Os pais numa família desestruturada
que deixam uma criança nas ruas?
Uma criança de 13 anos e
já viciada?
Os clientes que sentindo-se
incomodados com um garoto
pedindo comida reclamaram?
Os funcionários do restaurante
que espancaram o garoto?
Os donos?
Os governantes?
Todos nós?
E vemos a morte ao vivo ou gravada
em câmeras de segurança
e sentimos cada vez menos
Afinal já faz uma semana
E a desgraça da vez
hoje já é outra
Vamos culpar a todos
Assim dividimos a culpa
e sabemos muito bem
o quanto é difícil punir
quando muitos são culpados
Qual será a próxima notícia?
Qual será a próxima desgraça?
Não importa
Contanto que seja do lado de fora
da nossa porta.

Douglas Bunder - março/17

quarta-feira, 1 de março de 2017

Gaiola


Estava chovendo
A menina entrou e tirou os óculos
Pediu um não sei o que árabe para comer
Disse que havia pedido demissão
Do emprego do décimo andar
Porque se sentia um passarinho
Na gaiola
Na gaiola do décimo andar
Tinha ido trabalhar lá
Porque os tempos estão difíceis
Porque o pai estava desempregado
Porque o pais está sangrando
E eu senti uma estranha felicidade
Em saber que ela tinha pedido demissão
Do emprego que era uma gaiola no décimo andar
E pensei que ela poderia ser feliz em outro lugar
Fazendo as coisas que realmente importam
E eu desejei que ela conseguisse
Mas se ela não conseguir
Pelo menos ela se livrou do
Emprego que era uma gaiola no décimo andar
Eu também vivo querendo fazer as coisas que realmente importam
Mas sabe o pássaro azul que tem dentro do peito do Bukowski?
Eu tenho uma gaiola inteira.

Douglas Bunder (fev 2017)

Tempo

Cravo minhas unhas
na parede do tempo
mas desde que Issac
Inventou essa tal gravidade
A gente cai
Tudo cai
O tempo é grave
Então como o tempo passa
e isso é inexorável
Só resta a solução
Baudelairiana de
Embriagar-se
é a unica questão
Embriague-se
para fugir das mazelas
do tempo
Suas opções são:
Vinho
Poesia
Virtude
Corre ao bar
Se é a cachaça que te apraz
Se é só ela, fica lá
Se for a poesia compra e volta para escrever
Mas esteja certo de que é a poesia que vai te tirar do eixo
E será o regurgito dela e não o da cachaça
que te fará ainda vivo
Se for a virtude teu elo com a embriaguez
infelizmente não sei como te ajudar.
E depois disso tudo e para sempre
mantenha-se bêbado
É a única solução.
douglas bunder 02/17
Foto: Autoria desconhecida