segunda-feira, 17 de julho de 2017

Nós e nós na Paulista

Tem lua na madrugada da Paulista
Depois tem manhã malhada de luz...
E na manhã malhada chega gente
Tem jovens vindos da balada bêbados
Passam gays de todos os tons contando
Em alto tom as aventuras da noite
E tem os loucos conversando sozinhos
Falando com seus fantasmas talvez
Tem ciclistas e corredores felizes
Destilando suas "opioseratoninas"
Tem cães passeando com seus donos
Tem gatos no colo de moças solitárias
Velhinhos andando bem devagar
Homens gordos e suas esposas
Eles na frente elas atrás com as crianças
Mulheres magras tatuadas
Outros loucos falando dos
Dez mandamentos que Abrão guardou
Chegam os artistas plásticos
E mulheres lindamente plastificadas
E vem hippies com suas rugas no rosto
E crianças e moradores de rua
E outros loucos contando
Estórias que só a Paulista houve
Vem mágicos e músicos e palhaços
E um horda de gente invade a urbe
...

Uma velha senhorinha chega e lê:

"Nos nós
nós nos
atamos
sempre"

E diz que é estético, profético e poético
Que vai levar a poesia para sua nora
A nora é filósofa e vai entender
Pede um desconto pedindo desculpas
Desculpas aceitas, desconto concedido
Ela diz que adorava "aquele moço"...
Aquele que morreu: O Ferreira Gullar
Eu cito que também gostava muito
"Daquele moço" e cito uma frase dele:
"A arte existe porque a vida não é suficiente"
Ela me corrige:
- Ele disse que
"A arte existe porque a vida não basta"
Eu penso que a vida não basta mesmo
É preciso haver a senhorinha que
Compra minha poesia e que
Não deixa desatar meus nós à ela
É preciso que os loucos continuem
Passando na Paulista nos deixando
Em dúvida sobre nossa sanidade
E é preciso que haja lua na madrugada
E que nasça sempre manhãs malhadas de luz.

db (17/07/2017)




Nenhum comentário:

Postar um comentário