sábado, 16 de setembro de 2017

NORMOSE

Hoje uma linda menina
oriental
parou em
frente à minha banca
de poesia
Olhar sereno para
meus azulejos
Fiquei observando
tentando adivinhar
se ela estava
gostando ou não
(como sempre, ou
quase sempre, faço)
Vi que tinha uma
argolinha no nariz
(chamam de piersing)
Eu disse que eles
(os azulejos) tinham
fragmentos de
poesias minhas
Ela só sorriu
e nada disse
Continuou
contemplando
os dito cujos
Algum tempo depois
ou porque
já tinha visto todos
ou porque já
havia se cansado
me disse:
Então vou te dar
uma poesia minha
E puxou de
dentro da bolsa
um saquinho
Fui pegar uma
uma poesia e...
- NÃO! Com a
mão esquerda!
Puxa. Eu, pobre
poeta da rua,
não sabia que
devia pegar
a poesia com
a mão esquerda
Atabalhoado que sou
fui logo metendo
a mão direita.
Ok, mão esquerda,
perguntei o porquê.
Ela me explicou
Eu entendi.
E com a mão
correta
( a esquerda )
puxei uma que dizia:
NORMOSE
É VIROSE
Inadvertidamente
e sem entender nada
disse:
- Que legal!
E em seguida
ela fez a pergunta
que me desmontou:
- Você sabe o que é
NORMOSE?
E eu...
- Claro que, que, que...
Não!
Ela me explicou o que é
depois me elogiou pela
sensibilidade
e foi embora.
Aí eu pensei:
Acho que nem eu
Nem ela
Sofremos disso
Dessa tal de NORMOSE
Nós, eu e ela,
sofremos de outra
coisa:
de Poesitose
ou quem sabe de
Poesitite...
db (16/09/2017)
Em tempo: de uma olhadinha em Asas em versos
é muito bom!
Normose: É a doença que torna medíocres os seres humanos, conduzindo à uma vida sem metas, sem fulgor, sem paz, sem significado, sem vigor, sem criatividade, sem felicidade. Um normótico é o tipo engendrado pela coletividade, por ela condicionado, e dela dependente. É o tipo tido por "normal" na sociedade em que vivemos. Normótico é o mesmificado, que, sempre buscando ajustar-se ao coletivo, perde sua identidade, e faz todas as concessões aderindo à dança dos modismos que se sucedem.

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Oração da rua

Ocupo
a cidade
ocupo a rua
e as pessoas
Desejo
que desejem
Que se importem
Que mereçam
Torço
Pra que possam
Que consigam
Que se esforcem
Quero
Que entendam
Que aprendam
Se iluminem
Sonho
Que ocupem
Seu espaço
Seu direito
Rezo
Pra que o
esforço tenha
Sempre recompensa
Digo
que a luta
exige força
exige raça
Que nunca se
Enfraqueça
seu princípio
ideal e
opnião
E quando lhe
negarem
o seus pleitos
seus direitos
ou razão
Que Ainda
reste força
em seus peitos
Pra dizer
Rotundo
NÂO!


db 09/2017




Sabonete, cobertor e escova de dente.

O Zé tava quieto.
Tava na rua
trabalhando
Ninguém estava
Incomodando
Aí chegou um mano.
Chegou com aquele
papo de
- Desculpa incomodar...
E aí veio a estória:
- Meu nome é João
Sou morador de rua,
morava lá no centro
mas os caras levaram
todas as minhas coisas.
- Levaram cobertor,
levaram sabonete,
escova de dente,
só fiquei com meus
documentos...
- Eu tenho todos
os documentos
quer ver?
E mostrava:
RG, CPF,
Título de eleitor...
Dizia:
- Eu sou gente boa
Mas moro na rua.
Uso umas coisinhas;
Uso pedra pra fazer a cabeça.
Esse é meu problema,
por isso estou na rua...
- Tentei ligar para
minha mãe mas
não sei porque o
orelhão não
tá fazendo ligação à
cobrar.
Preciso que ela me traga
algumas coisas:
Cobertor, escova de dente,
sabonete...
Preciso que alguém
ligue pra ela
pra combinar um lugar.
O João tá fudido
Morando na rua
E lá no centro da cidade
Levaram dele
cobertor, escova de dente, sabonete.
O João quer que alguém ligue pra sua mãe
O João tem vergonha de voltar pra casa
O João só quer cobertor, sabonete e escova de dente
Era sete de setembro
dia da independência
e também era dia da dependência do João
Todo dia é dia da dependência de
um monte de João
Que independência temos pra comemorar
Se tudo que o João precisa é de
um sabonete, uma escova de dente e
um cobertor?
E tiram isso dele
E nem isso ele tem...
E ninguém ajuda o João...
Nem o Zé ajudou...
A rua é foda mano.
Esse país tá foda João.
db (7 de setembro de 2017)